A professora de matemática foi meu Mädchen in Uniform
Nos rochedos atrás do pátio
A sua sala privativa depois das horas
Nas galerias tristonhas do liceu onde se confundiam os homens e o mundo
Nos banheiros femininos em que nos fumávamos pelo sangue
As casas noturnas de bairros distantes passando lentamente
Quando o marido viajava atrás de seus bezerros de ouro
No fundo de todas as coisas
Falávamos línguas diferentes
Eu era uma desgraça operacional
Para entender ao meu lado
Que por (5t – 9 = 16) ela queria dizer Sim.
Que (5x + 6y = 1) era Não.
E (t4 – 8z = x) significava Quero te ver agora.
Com o tempo as sentenças ganharam fluência e não havia brigas
E irredutíveis nessas conversas só nossas
Não sei o que lhe deu ao me ver sentada na última fileira
O primeiro dia do curso
Quem sabe o que não sou mais capaz de ver em mim
Há entretantos no entretanto
Hoje a saudade é uma fisionomia
Páginas avançam sem contar essa história a ninguém
E não contam
O que determinado momento da vida corpo
É toda essa enormidade consciente até o fim
Contar
Seria como morrer
Laceramento
Torquemadas chamariam de παράφιλία o que era
Uma vertigem de ferro a queimar tout doucement