10.7.21

Mädchen in Uniform

 

É, foi sim 

A professora de matemática foi meu Mädchen in Uniform 

Nos rochedos atrás do pátio 

A sua sala privativa depois das horas 

Nas galerias tristonhas do liceu onde se confundiam os homens e o mundo 

Nos banheiros femininos em que nos fumávamos pelo sangue 

As casas noturnas de bairros distantes passando lentamente 

Quando o marido viajava atrás de seus bezerros de ouro 

No fundo de todas as coisas 

Falávamos línguas diferentes 

Eu era uma desgraça operacional 

Para entender ao meu lado 

Que por (5t – 9 = 16) ela queria dizer Sim

Que (5x + 6y = 1) era Não

E (t4 – 8z = x) significava Quero te ver agora. 

Com o tempo as sentenças ganharam fluência e não havia brigas 

E irredutíveis nessas conversas só nossas 

Não sei o que lhe deu ao me ver sentada na última fileira 

primeiro dia do curso 

Quem sabe o que não sou mais capaz de ver em mim 

Há entretantos no entretanto 

Hoje a saudade é uma fisionomia 

Páginas avançam sem contar essa história a ninguém 

E não contam 

O que determinado momento da vida corpo 

É toda essa enormidade consciente até o fim 

Contar 

Seria como morrer 

Laceramento 

Torquemadas chamariam de παράφιλία o que era 

Uma vertigem de ferro a queimar tout doucement