24.5.13

Estilística, primeira aula




A rasura do estilo individual em poli-individual, uma técnica epifânica reativa ao que se passa no mundo contemporaneísta, se espalha e se perde no mundo dos livros pouco a pouco sem que as palavras permaneçam as mesmas --- felizmente para nós a língua é uma água-viva --- embora espelhem a mesma vida achatada, onde os personagens que o habitam não passam de borboletas trêmulas ou elefantes no antiquário. Os adictos em literatura, desbelotados na teia contingencial dos mercados, saguis arbóreos do conhecimento, se expõem nas livrarias, nas editoras, em redes sociais, sites, peças de marketing (indoor, outdoor, hocus-pocus), histerizando um simulacro e exigindo um espaço no território da dominação, onde os negócios chafurdam no lodo ancestral da memória ao lado do desassossego passivo, fragilizado, dos agenciadores da palavra escrita. Os leitores comuns, por sua vez, vampiros da esperança requentada num momento de ocaso das ideologias, querem novidades (de preferência para socá-las numa teoria de tudo, que nos perdoem os físicos), buscam novos trapezistas do processo narrativo --- não importando se são de idem ou ibidem os malabares --- para que lhes sobreviva o arremedo de cultura que reforçará os pilares de suas estantes psicodomésticas, já roídas pelo analfabetismo filosófico imanente. E ainda hoje perguntam qual o papel da literatura em feiras literárias, convenções acadêmicas, mesas de debates, programas de TV, rodas de pôquer, sensualizando por embaralhamento conceitos de literatura engagée versus literatura blasé, per se, mais do quê. A pandêmica criticose universitária de sempre. Qual o compromisso atual da literatura,  ruminam, mascando semantemas contaminados de interpretite. Como se para autores e leitores não bastasse o  fogo --- a potência de fricção. Não. Têm de recortar o espaço e estabilizá-lo. Homogeneizar, fazer papinha, conteudinagens, fabulismos pastichosos. Não bastam o assomo poético da página criada/lida, o rastro na geografia do acaso. Repito, não lhes basta o fogo. Ao contrário do que afirmou Kafka,  para nós o importante aqui é que atravessando a luz há restos de palavras.

Discorram livremente sobre o tema em 30 linhas e 2 horas. 
Boa sorte.