A rasura do estilo individual em poli-individual,
uma técnica epifânica reativa ao que se passa no mundo contemporaneísta, se
espalha e se perde no mundo dos livros pouco a pouco sem que as palavras
permaneçam as mesmas --- felizmente para nós a língua é uma água-viva --- embora
espelhem a mesma vida achatada, onde os personagens que o habitam não passam de
borboletas trêmulas ou elefantes no antiquário. Os adictos em literatura, desbelotados na
teia contingencial dos mercados, saguis arbóreos do conhecimento, se expõem nas
livrarias, nas editoras, em redes sociais, sites, peças de marketing (indoor, outdoor, hocus-pocus), histerizando um simulacro
e exigindo um espaço no território da dominação, onde os negócios chafurdam no
lodo ancestral da memória ao lado do desassossego passivo, fragilizado, dos agenciadores da
palavra escrita. Os leitores comuns, por sua vez, vampiros da esperança requentada num momento de
ocaso das ideologias, querem novidades (de preferência para socá-las numa
teoria de tudo, que nos perdoem os físicos), buscam novos trapezistas do
processo narrativo --- não importando se são de idem ou ibidem os malabares --- para que lhes sobreviva o arremedo de cultura que reforçará os pilares de suas
estantes psicodomésticas, já roídas pelo analfabetismo filosófico imanente. E ainda hoje perguntam qual o papel da literatura em feiras literárias, convenções
acadêmicas, mesas de debates, programas de TV, rodas de pôquer, sensualizando
por embaralhamento conceitos de literatura engagée versus literatura
blasé, per se, mais do quê. A pandêmica criticose universitária de sempre. Qual o compromisso
atual da literatura, ruminam, mascando semantemas contaminados de interpretite. Como se
para autores e leitores não bastasse o
fogo --- a potência de fricção. Não. Têm de recortar o espaço e estabilizá-lo.
Homogeneizar, fazer papinha, conteudinagens, fabulismos pastichosos. Não bastam o assomo poético da
página criada/lida, o rastro na geografia do acaso. Repito, não lhes basta o
fogo. Ao contrário do que afirmou Kafka,
para nós o importante aqui é que atravessando a luz há
restos de palavras.
Discorram livremente sobre o tema em 30 linhas e 2 horas.
Boa sorte.