10.5.13

Sem que nada as visse



Em algum lugar do universo há duas luas cegas que não brilham. Duas luas próximas sem sol, e, como olhos que não veem, imaginam o que as cerca e mais além. Quando imaginam, não são outras luas distantes o que veem. Nem suas próprias origens. Para onde vão. Quantas direções tem o espaço.  Ou o que possa enxergar tudo aquilo que enxerga. Aquilo que vê sempre quer ver mais. E mais. O que vê aprende vendo. O que vê sabe o valor do brilho e das cores, e quer também brilhar e ser cor. As duas luas cegas  não sabem que não brilham, não sabem que são cegas, não sabem que são luas, mas por algum motivo sabem que uma está ao lado da outra. Em forma de casa. E se uma delas acha que não sabe da outra, imagina. Aprende imaginando. Uma lua cega imagina se ela é maior ou menor do que a outra. Se é mãe, se é filha. Esfera ou cubo. Qual a mais bonita, a mais cheia de si, e se minguavam ao mesmo tempo. Se havia estrelas. Do lado de qual? E quantas? O que são estrelas? Caracteres de seus nomes? As duas luas imaginárias e cegas que não brilham ficam por lá, suspensas no escuro, imaginando. Criando o universo - como pequenas ilhas. Contando histórias para a terra dormir. O tempo evaporar. Sem precisar ver mais e mais. Sem precisar do claro e do escuro, e de tudo mais que brilha. Foi assim por milhões de anos. As duas luas cegas e tudo que criaram sem que nada as visse ou fosse visto por elas.