Em algum lugar do universo há
duas luas cegas que não brilham. Duas luas próximas sem sol, e, como olhos que
não veem, imaginam o que as cerca e mais além. Quando imaginam, não são outras
luas distantes o que veem. Nem suas próprias origens. Para onde vão. Quantas
direções tem o espaço. Ou o que possa
enxergar tudo aquilo que enxerga. Aquilo que vê sempre quer ver mais. E mais. O
que vê aprende vendo. O que vê sabe o valor do brilho e das cores, e quer
também brilhar e ser cor. As duas luas cegas não sabem que não brilham,
não sabem que são cegas, não sabem que são luas, mas por algum motivo sabem que
uma está ao lado da outra. Em forma de casa. E se uma delas acha que não sabe
da outra, imagina. Aprende imaginando. Uma lua cega imagina se ela é maior ou
menor do que a outra. Se é mãe, se é filha. Esfera ou cubo. Qual a mais
bonita, a mais cheia de si, e se minguavam ao mesmo tempo. Se havia estrelas.
Do lado de qual? E quantas? O que são estrelas? Caracteres de seus nomes? As
duas luas imaginárias e cegas que não brilham ficam por lá, suspensas no
escuro, imaginando. Criando o universo - como pequenas ilhas. Contando histórias
para a terra dormir. O tempo evaporar. Sem precisar ver mais e mais. Sem
precisar do claro e do escuro, e de tudo mais que brilha. Foi assim por milhões
de anos. As duas luas cegas e tudo que criaram sem que nada as visse ou fosse
visto por elas.