31.7.13
29.7.13
Joseph Brodsky
Carta a um arqueologista
Cidadão, inimigo, filhinho da mamãe, idiota, lixo
total, mendigo, porco, refujudeu, verrucht;
um escalpo tantas vezes escaldado com água fervente
que o débil cérebro parece completamente cozido.
Sim, vivíamos aqui: nestes escombros de concreto,
tijolo e madeira que você agora chega para peneirar.
tijolo e madeira que você agora chega para peneirar.
Nossos fios foram todos cruzados, eletrificados, enrolados, trançados.
Não amávamos nossas mulheres, mas elas nos deram filhos.
Agudo é o som da picareta que fere o ferro morto;
porém é mais suave que o que nos disseram ou nós mesmos contamos.
Estrangeiro! tenha cuidado ao andar entre nossa carniça:
o que lhe parece carniça é liberdade para nossas células.
Deixe nossos nomes em paz. Não reconstrua essas vogais,
consoantes, o que o valha: elas jamais parecerão cotovias
mas a goela de um cão raivoso a devorar
o próprio rastro e fezes latindo sem parar.
(trad. livre MP, 2013)
(trad. livre MP, 2013)
23.7.13
21.7.13
19.7.13
18.7.13
14.7.13
Poemas de Guillermo Boido
Amém
despoja-me do teu rosto
não permitas
a servidão
estéril da memória
Primeiro amor
e tanto te esqueci que nunca exististes:
sonhei contigo como o vento sonha com pássaros
Disjunções
o real é uma corda esperando ser esticada
de vazio em vazio como uma teia de aranha
o acaso é a luz que alimenta toda coisa
se nada é sombra se tudo é cego
Cópula
e a esta praia mútua
faremos crer que
perdura nosso rastro e que
o semeador de marés
dorme
Pulso
setenta
vezes
por
minuto
o
sangue
chama
mas não respondo
Conversas com Tola
há um poema não escrito
por trás de todo poema
porque
todo poema é apenas
a impotência de um poema
donde
toda palavra é morada
de abismo muro ou oblívio
e este
poema que escrevo sobre
aquele poema não escrito
mente
pois só evoca nomes
que me nomeiem
quando
enfim encontra o silêncio
enfim o silêncio é
Credo
não vi a ressurreição da carne
vi sim como um homem pode
entre os dentes da dor da fome do látego
tornar-se alimento de sua própria carne
até alcançar o tamanho dos mortos
A espera
E estar aqui como o vento.
(La oscuridad del alba, Poemas 1970-2005, Ediciones Virgilio, Buenos Aires, 2006.
Tradução Maira Parula, 2013.)
12.7.13
10.7.13
De um azul
O poema é um nó do vento
que no meio da rua a menina
e o cão contornam sem
pressa.
De uma varanda o velho
observa
os carros subindo e
descendo
a ondulação acima da mão.
O velho já não enxerga direito
se o vestido branco manchado
é a orelha do cachorro
ou um barco a galope
num rolo de fumaça,
se é um vilarejo a noite de
faróis
que acordam a fachada das
casinhas
ou um deserto de cavalos
a poeira que levantam.
O rio escorre às suas costas
de um azul em que nada acontece.
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