Carta a um arqueologista
Cidadão, inimigo, filhinho da mamãe, idiota, lixo
total, mendigo, porco, refujudeu, verrucht;
um escalpo tantas vezes escaldado com água fervente
que o débil cérebro parece completamente cozido.
Sim, vivíamos aqui: nestes escombros de concreto,
tijolo e madeira que você agora chega para peneirar.
tijolo e madeira que você agora chega para peneirar.
Nossos fios foram todos cruzados, eletrificados, enrolados, trançados.
Não amávamos nossas mulheres, mas elas nos deram filhos.
Agudo é o som da picareta que fere o ferro morto;
porém é mais suave que o que nos disseram ou nós mesmos contamos.
Estrangeiro! tenha cuidado ao andar entre nossa carniça:
o que lhe parece carniça é liberdade para nossas células.
Deixe nossos nomes em paz. Não reconstrua essas vogais,
consoantes, o que o valha: elas jamais parecerão cotovias
mas a goela de um cão raivoso a devorar
o próprio rastro e fezes latindo sem parar.
(trad. livre MP, 2013)
(trad. livre MP, 2013)