14.7.13
Poemas de Guillermo Boido
Amém
despoja-me do teu rosto
não permitas
a servidão
estéril da memória
Primeiro amor
e tanto te esqueci que nunca exististes:
sonhei contigo como o vento sonha com pássaros
Disjunções
o real é uma corda esperando ser esticada
de vazio em vazio como uma teia de aranha
o acaso é a luz que alimenta toda coisa
se nada é sombra se tudo é cego
Cópula
e a esta praia mútua
faremos crer que
perdura nosso rastro e que
o semeador de marés
dorme
Pulso
setenta
vezes
por
minuto
o
sangue
chama
mas não respondo
Conversas com Tola
há um poema não escrito
por trás de todo poema
porque
todo poema é apenas
a impotência de um poema
donde
toda palavra é morada
de abismo muro ou oblívio
e este
poema que escrevo sobre
aquele poema não escrito
mente
pois só evoca nomes
que me nomeiem
quando
enfim encontra o silêncio
enfim o silêncio é
Credo
não vi a ressurreição da carne
vi sim como um homem pode
entre os dentes da dor da fome do látego
tornar-se alimento de sua própria carne
até alcançar o tamanho dos mortos
A espera
E estar aqui como o vento.
(La oscuridad del alba, Poemas 1970-2005, Ediciones Virgilio, Buenos Aires, 2006.
Tradução Maira Parula, 2013.)