29.9.13

É o que dizem






Dizem que se é feliz num hotel nas montanhas.
Quando estamos disponíveis para outras pessoas.
Ombros nus. Pés nas águas magnesianas.
E o nome de ninguém nos interessa.
Quando se toca um corpo proibido nos escritórios.
E a memória vira gelo que você derrama num copo.
Confessa ao padre, um peso de si mesmo sobre o tapete persa.
O céu rachado de azul, uma canção já cantada.
Quando não deixa a tragédia tomar o lugar do seu próprio desespero.
E sabe usar palavras, ideias e açúcar com abuso de confiança.
Quando se deixa rir ao lado das axilas dos nós não sabemos.
E a ausência do outro é muito agradável.
Dizem que os pedreiros têm almas simples.
Um suor coado com álcool e miséria. 
Um cheiro de café enterrado vivo.
Dizem que se é feliz um minuto antes da sentença de morte.
Como um cachorro correndo em volta da mala desfeita do dono.
E num colchão macio e obsceno.
Os pulsos apertados na guarda da cama.
Com beijo de língua e queijo curado.
O sabor de sol nas mentiras de amor.
Um dia que começa.
Frio como o chão.
É o que dizem.
Os ratos têm maus modos neste hotel nas montanhas.