Escrevi esta história enquanto o esperava. Sei que não virá.
Cheguei às 11 em ponto no local combinado. A drogaria estava deserta e sentei-me nos fundos para tomar um espresso. Meu estômago me espremia. Tudo suava. O homem sentou à minha mesa um minuto depois de mim. Talvez já estivesse ali. Talvez fosse o funcionário das injeções, o barista, o contador. Eu esperava um circunspecto, óculos escuros, músculos e meia dúzia de palavras. Como nas ficções. O homem era queimado de sol, esquálido e durante cinco minutos cravados, sorridentes, esboçou-me o recente nascimento de uma criança em sua numerosa família. Em detalhes seguros e rápidos, os que eu poderia reproduzir aqui se a história se interessasse. Eu mal falei. Um dos meus ofícios é acreditar. Ele não responderia quando, onde e como se eu lhe perguntasse. Ouvi aquela xaropada com uma pastilha de menta derretendo na boca. Eu tinha uma pressa oculta. Quando ele parou de falar por dez segundos, senti que havíamos acabado. Entreguei-lhe um maço de notas e mostrei duas imagens nítidas na minha tela. Eu não queria erros. Não queria aparas, lama nos sapatos. Eu queria a proporção perfeita. Ele guardou as fotos dos brutamontes na memória e puxou outra de papel de dentro da carteira. A do neto. O novo planeta de sua órbita. Vi lágrimas naqueles olhos claros. Uma mulher comprou cápsulas para constipação. Eu não pedi outro café. Levantei-me e fui ver os xampus ordenados nas prateleiras. A mesa do café estava vazia quando paguei no caixa. Eu precisava daquele troco. Eu precisava de silêncio. Do silêncio de guetos espelhados num lago após o bombardeio.