10.11.18

Souvenirs-écrans







Numa casa de pensão em Copacabana vultos jantam em volta da mesa na sala de luz baixa é uma visão de segundos pela janela e jamais esquecida de tão criança. Não muito distante o tempo dali outra visão de uma cozinha com três sombras ao lado da mesma criança que agora tosse entalada com uma espinha de peixe não não precisa hospital bate nas costas e ela cospe outro dia dentro de um carro com os pais à noite cruzando a linha férrea onde parou no sinal seu triciclo vermelho e branco correndo na calçada da praia ou aquele jipe verde de brinquedo que a levaram até o barco entrar no mar e por ele ver as luzes batendo na água da noite escura que Ipanema mais à frente já tinha palmeiras bares biquínis canções e um Recreio dos Bandeirantes só mato areia e sol um plasma que só aparece na memória quando tem areia o resto tudo lhe aconteceu e foi gravado à noite pelo centro da cidade sem um nome definido pelas luzes dos prédios praças pelos ternos do pai os cigarros do pai as gravatas de cores mortas no radioteatro das bonecas sem cabeça com quem dormia numa poltrona-cama no quarto dos pais do pequeno apartamento de sombras perto na praia o farol girando orientando navios de uma ponta a outra do pequeno oceano da menina de mão queimada por leite fervente bota na água fria não! passa manteiga não! passa pomada Alivia e tosse tosse a garganta vai fechar opera! freiras éter arrancam da sua roupa as carnes metálicas com mais um pico de opioides e o ar passa como passou Laura amiga alta da irmã alta e a pequena lembra da canção do filme muito mais tarde num pé de vento e seu coração amolece com Laura no banco ajoelhada em poeira cristalina e gesso Credo in un dio che m'ha creato simile a sè na missa abafada de corpos em perfumes dominicais ascendendo por andaimes aos anjos de pincéis no teto da catedral ela canta no modo parlando inventa pecados do tamanho da hóstia imaculada mastiga a farinha e não peca com a morte ofício divino mas escreve com a mão esquerda na professora que diz é monstruoso e ela engole o lanche da mãe da merendeira de couro aprendendo a escrever com a mão direita na escola dos superiores e a sublinhar com lápis esse é o Lukács que achou na rua jogado fora mas compra Lévi-Strauss e deita já mulher Oswald com Macbeth e todos os outros depois destes até a terra sufocar sua Igreja da Sétima Gargalhada de Cristo na esquina das últimas forças da menina que ainda lhe sussurra você se esconde em mim.