Gira
a chave duas vezes na fechadura. A mão na maçaneta uma vez. Empurra. Entra. A alça da bolsa prende na bola da maçaneta. Solta a alça com inadiável irritação. Acende a luz. Joga tudo que carrega no sofá e vai ao banheiro. Seca. Abre o armário acima da pia para não ver-se no espelho. Lava mãos e rosto. Puxa a toalha. Volta à sala. Tira o casaco, pendura no encosto da cadeira. Acende a luz da cozinha. Espalha maionese no pão sírio, coloca uma fatia de queijo branco, dez passas. Fecha. Serve-se de um copo de água de coco. Senta e come devagar. Refaz o trajeto do dia. Mais um que passou no trabalho. As ordens de Amanda. As piadinhas falsamente anticorporativas dos colegas. O café aguado e morno da cafeteira. O trânsito nas baias. A invenção do computador que não livrou ninguém da papelada. Hora do lanche. Haverá mais demissões? Ouve e mastiga. Mais três horas e estará fora dali. A cerveja rotineira e solitária na frente do ponto de ônibus. A alça da bolsa prende na roleta. O calor das janelas fechadas é um ônibus dentro do ônibus. O suor escorrendo pela pele. Afasta a perna do corpo quente e fácil que encosta no seu. Conta os faróis, as lojas, os pedestres, os prédios de apartamentos. Entra na portaria. Boa noite. Dedo no 5. Aperta. A alça da bolsa presa na maçaneta. A imagem presa para sempre no espelho que não vê. O sanduíche desce seco. Prende na garganta seca. Empurra com água. O celular toca dentro da bolsa jogada no sofá. Bebe mais água. A cozinha toda branca dentro do ônibus. Dentro do apartamento preso pela fechadura da maçaneta. Amanda presa na roleta com suor de ônibus e pão sírio. Conta piadinhas falsamente anticorporativas para ela e puxa a toalha. Amanda come devagar a toalha presa na sua garganta seca. Ouve e mastiga suas ordens. Dedo no 5. Aperta mais. Joga Amanda no sofá. Acende a luz da cozinha. Senta e come devagar.
a chave duas vezes na fechadura. A mão na maçaneta uma vez. Empurra. Entra. A alça da bolsa prende na bola da maçaneta. Solta a alça com inadiável irritação. Acende a luz. Joga tudo que carrega no sofá e vai ao banheiro. Seca. Abre o armário acima da pia para não ver-se no espelho. Lava mãos e rosto. Puxa a toalha. Volta à sala. Tira o casaco, pendura no encosto da cadeira. Acende a luz da cozinha. Espalha maionese no pão sírio, coloca uma fatia de queijo branco, dez passas. Fecha. Serve-se de um copo de água de coco. Senta e come devagar. Refaz o trajeto do dia. Mais um que passou no trabalho. As ordens de Amanda. As piadinhas falsamente anticorporativas dos colegas. O café aguado e morno da cafeteira. O trânsito nas baias. A invenção do computador que não livrou ninguém da papelada. Hora do lanche. Haverá mais demissões? Ouve e mastiga. Mais três horas e estará fora dali. A cerveja rotineira e solitária na frente do ponto de ônibus. A alça da bolsa prende na roleta. O calor das janelas fechadas é um ônibus dentro do ônibus. O suor escorrendo pela pele. Afasta a perna do corpo quente e fácil que encosta no seu. Conta os faróis, as lojas, os pedestres, os prédios de apartamentos. Entra na portaria. Boa noite. Dedo no 5. Aperta. A alça da bolsa presa na maçaneta. A imagem presa para sempre no espelho que não vê. O sanduíche desce seco. Prende na garganta seca. Empurra com água. O celular toca dentro da bolsa jogada no sofá. Bebe mais água. A cozinha toda branca dentro do ônibus. Dentro do apartamento preso pela fechadura da maçaneta. Amanda presa na roleta com suor de ônibus e pão sírio. Conta piadinhas falsamente anticorporativas para ela e puxa a toalha. Amanda come devagar a toalha presa na sua garganta seca. Ouve e mastiga suas ordens. Dedo no 5. Aperta mais. Joga Amanda no sofá. Acende a luz da cozinha. Senta e come devagar.