30.7.12

Eliot, bife & caroço




Minha avó nunca se entendeu com medidores de glicose.

Perdia a lancetadora entre os vãos do sofá.

A dentadura, na vodca on the rocks.

Põe aí um filme do Chato é o Resto. 

Aquele que faz Moisés no planeta dos macacos.

Minha avó. À distância de um ouvido

Lia a manhã nos jornais velhos do pai que lhe morreu 

jovem de peito arrebentado na calçada -- um poeta. 

Cleptomaníaca verbal, rasgou Eliot na biblioteca 

dizendo que fez o poema só pra mim. 

Ensinou-me a contar até dez em alemão. 

A usar antolhos de circunstância, o uniforme da memória.

Minha avó e seu bife à milanesa com caroço de laranja. 

Minha avó e a foto do seu primeiro bebê morto na carteira.

Minha avó.

Sempre igual a si mesma.

Como a lua boiando no mar.