19.3.15

Hugo Hodelín Santana




O pó da estrada

Ser humilde pode ser pecado.
Teus sapatos furados farão
com que um zé-ninguém te abandone à zombaria.

Ser humilde pode ser um crime.
Contra o olho que vê e não vê o que vê.

Ser humilde pode ser uma bomba-relógio
nas mãos do delírio.
Uma sabotagem
que não permitirá que passes do lobby
e da incessante recusa de água e da quota de cerveja.

Mesmo que tenhas feito teu melhor poema,
a fome do dia deitará no teu estômago,
como uma mulher carinhosa,
de uma forma cruel e perversa.
Quando só o silêncio for o teu filho e cúmplice.



(trad. Maira Parula, do original "El polvo del camino", 2015.)