2.3.15

Largo da Gameleira







No peitoril da janela mais alta 
do prédio mais alto da sua rua,
ainda ontem um terraço no Largo da Gameleira,
o pombo aguarda o meu miolo de pão
um pombo abnegado
apóstolo da carreira que abraçou 
-- ser um pombo morto de fome dos arranha-céus
das cidades onde vim parar

sem interesse nos farelos noturnos
dos papéis que formam minha mesa --
uma seleta de poetas capixabas,
o pombo equilibra-se
olha de lado os olhos vermelhos
dos planos que fiz de coca-cola com maçã,
as ferragens do serviço de viver com pouca sorte

eu me equilibro no ombro dolorido 
e estendo na mão um segredo que não digo
o pombo oscila no céu pendurado
esse pombo abnegado
e oscilamos contra a luz
o vento das obras de nosso cais artificial --
algo em nós dois quer conquistar o meio do mundo
o sol quase posto