No peitoril da janela mais alta
do prédio mais alto da
sua rua,
ainda ontem um terraço
no Largo da Gameleira,
o pombo aguarda o meu
miolo de pão
um pombo abnegado
apóstolo da carreira que
abraçou
-- ser um pombo morto de
fome dos arranha-céus
das cidades onde vim
parar
sem interesse nos
farelos noturnos
dos papéis que formam
minha mesa --
uma seleta de poetas
capixabas,
o pombo equilibra-se
olha de lado os olhos
vermelhos
dos planos que fiz de
coca-cola com maçã,
as ferragens do serviço de
viver com pouca sorte
eu me equilibro no ombro
dolorido
e estendo na mão um
segredo que não digo
o pombo oscila no céu
pendurado
esse pombo abnegado
e oscilamos contra a luz
o vento das obras de
nosso cais artificial --
algo em nós dois quer
conquistar o meio do mundo
o sol quase posto