Os bichos saíam pelas capas.
Pelos
buracos roídos no papelão.
Não
piolhos de livros
que
de ventre inchado de polpa
sobem
paredes úmidas num arrasto de digestão.
Nem
traças -- a Ordem Thysanura que se esconde durante o dia.
Maiores.
Ancilóstomos.
Lumbricoides.
Eu
coçava o corpo inteiro.
Levanto
e jogo uma água no rosto.
Cubro-me
de óculos.
Estão
por toda parte.
Descendo
uma prateleira, a outra.
Trilhando
lombadas.
Fugitivos
de bueiro saltando de dentro do miolo,
encolhem
o corpo viscoso para forçar passagem.
Os
menores, infantes, despencam ao abismo dos meus pés.
Não
acendo a luz do teto.
Não
preciso ver mais do que estava vendo.
Viro-me
à cama de onde saí.
Nada.
Limpa.
Seria
mera questão de tempo.
Passo
a mão no cabelo com o pouco tato do desespero.
Nada.
Nenhuma superfície mole e molhada.
Eu
estava seca.
O
ar frio penetra-me os poros.
Ergo
os olhos e acompanho a pantomima à minha frente.
A
movimentação aleatória dos protagonistas.
Tento
ouvir uma fala.
Traduzir
onde não há esqueleto.
Minha
audição desperta.
Juraria
que conversam. Trocam comandos.
Alertam-se
do perigo que represento.
Eu poderia
matá-los pelo fogo.
Decepá-los
seria duplicá-los, triplicá-los.
Cada
pedaço se regeneraria em novo indivíduo.
Estão
comendo o que milhares escreveram.
As
histórias que me contam desde a infância.
Roem
a mim.
Outras
têm seus livros
mas
estas são as que li e acrescentei minha vida.
Escrevi-as
em parte.
Decepei,
dupliquei, tripliquei.
Sinto
uma ânsia de vômito no entreato.
As
cenas se desenrolam num palco elisabetano.
Mambembes,
rastejam pelos vários níveis de arquibancadas.
Não sei
mais se sou palco ou plateia.
Se
me observam, se perguntam o que estou fazendo ali
ainda
de pé na porta de sua sala de jantar.
Se
não vou me deitar para o repasto.
Eles
não param o que fazem para tentar me escutar.
Talvez
não precisem.
Talvez
me ouçam de outra forma.
Por
nervos, por sentidos.
Pelo
que poderia lhes dizer a representação do meu choro.
E
então choro.
Solitária
enfim, choro e me curvo úmida numa reverência.
Rastejo e me desmancho sob seus aplausos.
Rastejo e me desmancho sob seus aplausos.