2.12.17

Cuida de mim como de um cachorro




Cuida de mim como de um cachorro. 
Me dê um canto para ficar com água de beber. 
Meus panos. 
Meus papéis. Assino o que você quiser. Caso. 
Tudo o que eu tiver será teu. 
O de menos. O de mais. 
A procuração. A propriedade. O dinheiro. 
Me deixe quieta. 
Com minha bola azul. Meu sangue sobre o que aconteceu. 
Ponto final em vez de vírgula. 
Deixa a comida na mesa, toque o sino onde a casa começa. 
Eu acharei o caminho pela trilha de ossos calcinados, 
pelas cruzes de galhos apodrecidos do sono que enlouqueceu. 
Eu posso rir, posso brincar, abanar o rabo para você. 
Me faça um carinho. Coce a barriga. Mergulhe-me no rio. 
Tira minha coleira para eu poder ver teus lábios como são, 
tua vida como não sinto. 
E submersa, olhos lavados sem desespero, 
minhas patas molhadas esmagarão cracas, moluscos e algas. 
O cálice da infância. 
Cuida de mim como de um cachorro. 
Apaga a luz. 
Não enxergo bem na claridade. 
Farejo. 
Faço companhia. 
Mato estranhos para te proteger. 
E isto me comove.