Querido maço vazio
Não sei se te amasso, jogo longe e converto,
ou desenredo em pedaços e enterro.
Posso fazer uma bolinha. Brincar de futebol com meu gato.
Ele até gosta. Lagartixas nem conversam mais.
Maço querido e oneroso, quantas horas/dias de vida me roubaste?
E entregaste a quem? Já de nada te servem se estás acabado, bocó.
Fiz uma poesia fumando teus filhos.
Ouvi um Mompou inteiro queimando os miúdos um por um.
Não é culpa minha. É o vento que arrasta.
Pensei muitas coisas durante essa névoa enferma e paterna.
Olhava pela janela e os expulsava pela boca,
como da sala a professora cansada para quem
as crianças são velhas e não lhe fazem mais rir.
Depois.
Depois uma coisa.
Acendi um errado pela cabeça.
Ele gritou, ah se gritou. Tirou-me o sono.
A saia engomada.
Amanhã estarei na venda. Renovado, me receberás —
Sentaremos no pequeno balcão um junto do outro.
Apertados.
Sufocados.
Amantes.
Capa e miolo.