17.4.19

Volta já


O dia em que parei com ela na esquina da Graça Aranha e olhamos livros na vitrine eu com um boné branco para que não me saltassem os miolos pelo crânio com medo de que chovesse no quarto e não conseguisse aparar todas as goteiras a sensação de pânico de volta como da primeira vez o deslocamento do eixo psíquico não saber quem sou não posso falar com ninguém me faz mal coração acelera dor de cabeça primeiro sintoma ésquilo eurípedes sófocles você levou os três para casa não que eu tivesse recomendado sugerido se pelo menos a chuva parasse o tempo encolhe não cabe mais em mim você manda uma mensagem está lendo jack london e eu sei que é mentira o lápis vai acabar a luz vai acabar as meias de frio preciso escrever até passar até passar se a chuva for embora vou me sentir melhor ela não para em que trecho de london você está em que frase em que semáforo mas você não responde porque não é verdade esse 8 de agosto essa terça-feira de ano nenhum na esquina da Graça Aranha e dos livros que roubei na vitrine pra você o filme que contei das garotas internas no buraco dos castigos e cabelos raspados a freira de tesoura na mão e jack london ficou careca e nós rimos das 9 às 18 batemos o ponto de volta ao metrô minha estação antes da sua desci na igreja do largo comi séculos de esfihas desenhei nas paredes a água desmanchou e tive de aparar as letras os traços que fechavam o barco pronto para partirmos o seu telefone não atende a sua dipirona não atende meus ouvidos não silvam eles chiam eu corrigi para chiam e você leu dando de ombros tanto faz se for eurípedes 2019 ou a gaiola de mortal combat no jardim do jardim de infância e você estava lá puxando o meu cabelo tirando notas máximas porque eu só olhava para as janelas o sol e os canos de descarga nós fumando no banheiro saias azuis levantadas e molhadas de chuva eu não quero decorar datas eu disse quero aprender a pensar você disse eu não sei o que é pensar nós completávamos o pensamento uma da outra me dá sua mão a minha está fria não importa põe aqui e o seu coração era todo meu na vitrine da Graça Aranha todo o seu corpo a biblioteca nacional em chamas o seu beijo de gosto impreciso o seu rosto operado eu assistia e chorava colocava uma flor dentro de você e ia embora porque precisava aparar goteiras degolar o medo engolir as cápsulas e dormir escrevendo as mãos vazias fazendo o movimento do lápis no barco espalhado no chão não sei que horas
que horas são
que horas
que são
os cães dormem
você dorme
eu a casa empapada
calmaria e braços de volto já