25.12.20
22.12.20
15.12.20
10.12.20
Fórmulas
Você cuida, eles escapam.
Dentes, palavras.
Um dia escapam.
Pela brecha eu a vi,
sentada na casinha
que dava para o morro:
“Você cuida, eles escapam.
Dentes, palavras.”
Desde então, não me necessito mais.
Preciso tomar fórmulas.
No cinema, poetas escoavam versos
sorrindo para satisfazer nossa vaidade.
Desde então, quando dizem
“uma árvore alcançando o céu invisível”,
sei que querem dizer outra coisa.
A coisa que procuro, cuido e escapa.
Porque existem fórmulas
e me ajeito por trás delas
virando a cabeça para tocar-lhes a face.
Se é assim que gostam de vestir-se.
28.11.20
Daria Menicanti - 1 poema de amor
Quanto tempo -- você dirá. E haverá
cheiro de trem, de comida frita,
e um plumaço de brisa marinha
já na Saída. Nos jardins agrícolas
da Estação, a lua retornará.
-- Como está -- você vai perguntar.
De um indomável poema antigo de amor
sorrir para você será maravilhoso:
-- Bem, quando te vejo.
(Daria Menicanti, em Un nero d'ombra, Milão, 1969. Trad. MP)
14.11.20
O silêncio de Beethoven
O silêncio de Beethoven
gosta de aviões
do brilho da manhã na fuselagem
o som de um avião lembra bombardeios quando está vindo
praias ensolaradas quando está indo
28.10.20
NO ME
NO
ME
(a play)
the walk
E: You no somethink, for Fiama I put all ma
poetriers inside a cushion to rest. And the war prophet Clause Wits too. Here,
read ma offspring cod.
A: Clause number Thèse: “Tag
the camsight lines.” Clause number Tzu: “Plunge the finest word into salt.”
Clause number Try: “ Come off before it rises.” Vat diz meet, “Come off before
it rises”?
E: It’s a kind of fooler. A fal staff fooler in
case the opsycho civilimorphs pause the game. The real fooler is dangerous at
full rising. This drill is supposed to be a spring, not a doggone nuke.
A: Shouldnt we stop with deeze drills? The odders
have also their bloody word-wedding coach. I thing now is the right time for us
to forge the NO ME. And then shrine it. Shrine and forguest.
the lab
A: Helás,
dis termite isnt strainge?
E: Know.
It’s just inaccessible for media ocrities, not strainge. Comon, it’s pure semiosis sugarfree.
A feeling.
A: I dont no. C’est strainge. Hurryball. A name
like a diabolic ferea tale.
E: Be nice, try it. The name meets “land of the
word-eaters”. And there runs the glory. A land of psilocybinned Liszt, where they harmonized
oysters, paraoidês, gaiacybers, influenced by the Himalayas. Unfortunately they
used to spoil the accents. Now it seems there R only two survive fours.
A: It really tastes like a hi skull. You measure
skulls?
E: Clause Wits was a
colleague. I dont measure ma partners’ skulls, though they always ask me for.
A: I m eating dis gustin shit just
to help your rearsearch. Do not forguest.
E: Dont swallow, core 'ngrato. Just chew it
pianissimo. First 12 times, then 14 and 18. Spit on the Petri.
A: Pro-mise en abyme no more seacrets bet win us.
E: [smizing] Everythink you vant. Ich bin von Kopf bis
Fuß auf liebe eingestellt.
on Kerougharch Road
E: Rolleiflex, a billteafool ma
chin. Levi & athan. For solo, gruppe, and holestic wild pics. It cannibals
nature colours.
A: I kant take any peaks et al when on morfine.
E: Anythink is posse ball, Madame. You eight a
skull, rearmember.
A: “Madame” non. Monseñor. O yeah, but I ape a
RAF skull.
E: O Kay, Monseñor then. You no somethink, I
observe the odders quite uau when on morfine. They dont seem so strainge as I
thing B-4. I kan see all their past even from a single ketamine stanza.
A: I m not a poetrier like thee. I vant add
ventures to ma life. Shock and ó. Sea wheels. Do not full your shelf.
E: In 6 days und
7 nites, o Señor Tom vai vir armar e Omar vai vir ar Señor Tone.
A: In posse balls. We R in a militar
post-modernism age, a spider’s web land, with hopes and chains. No escape. No
exitos. Only dissonant mind & body info. Prece pieces bet win souls. Void.
the ship
A: [reading] “One must remember
to go back step by step.” I m on a boat, mothersucker!
E: Haf you seen ma beginnin?
A: Your vat?
E: Ma book on tribal theories. Kant find it
manywhere.
A: Call up spirits. Their speech in tongues May
help thee.
E: Ayeah, god idea. Comon, les
have a drink. I hate ships and waters all around ma boreders.
A: Boire. Boire. Boire.
the bar
E: The words R so wide. Utterly
universal in their inner selves. Deeze langrammatical fences, so pathetic. We
should haf more freedoom to travel them.
A: [swaying a bottle of gin] I wish
I head known some Hottentots more amusing than you, ma deer.
E: “Don’t cry for love lost.” Billie
Holiday’s circumscription theory about luv.
A: O theories, theories, the Ories
for alluvers. There R so many in this Word. I luv evry word that seems to say,
“Please me”.
*
Maira Parula, NO ME, excerpt, ok to ber 2020.
12.10.20
7.10.20
5.10.20
29.9.20
25.9.20
Anne Carson entre barras com Paul Celan
"Sprachgitter* é uma palavra que Celan usa para descrever as operações de sua própria linguagem poética [...] é uma palavra composta por dois substantivos de relação ambivalente. Sprach refere-se à linguagem. Gitter significa um tipo de treliça, cerca ou malha trançada. Para os que vivem enclausurados, Gitter é a grade ou fenestra locutaria** por meio da qual falam com as pessoas que estão do lado de fora. Para os pescadores, significa uma rede ou armadilha. Para os mineralogistas, a formação em rede de um cristal. Celan usa Gitter para sugerir passagem, bloqueio ou salvação da fala? A grade pode fazer tudo isso. Celan pode estar se referindo a tudo isso [...] Celan pode sentir-se em casa na sua língua materna bastando um processo rigoroso e parcimonioso de edição de texto [...] Celan se vê ordenando a linguagem através dessa grade. A grade limita o que ele pode dizer, mas também pode depurar. Como o cristal, depura até chegar à essência. Como a rede, salva o que foi depurado."
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* Grade verbal. (N.T.)
** Janela de interlocução. (N.T.)
Anne Carson, Economy of the Unlost (Reading Simonides of Keos with Paul Celan), 1999. Excerto traduzido por Maira Parula.