19.5.20

Oscillaria





A malária é o corpo em ebulição.
Fazíamos o impensável com um décimo de consciência.
Quatro mamilos em ponta.
Sexo empapuçado.
Torpor convulsão êxtase.
Havia uma cidade antiga encoberta pela areia,
uma fonte de água baça,
o aposento com dois ambientes separados
por uma porta de escrita cuneiforme
que produzia ecos ao ser fechada.
Um paroxismo próximo,
dentro do parasita,
marcava os segundos.
O leito.
Não dava para saber se era hotel,
nossa própria casa.
O som de motocicletas e carroças dissipado,
o sol e a noite miasmavam pelas frinchas das janelas.
Cuidávamos uma da outra quando alguém
podia manter-se de pé por alguns minutos.
Enxames de espera,
até completarem o ciclo da esquizogonia.
Não a cura.
Recuo e recrudescimento.
As paredes verdes interpretavam cenas bucólicas
com suas linhas de limo e nuvens de mofo.
Nossas mãos coladas em sonhos sucessivos, inacabados.
Os papéis todos escritos.
Não havia mais onde escrever e com o quê.
Domingo ou quarta.
Norte ou sul.
Lá fora, uma erosão no alto da rocha,
degraus encovados de uma longa escadaria.
Subimos por ali.
Parece tanto tempo.
A febre afrouxando,
a consciência plena restituída,
não seríamos mais as mesmas.
Desconhecidas outra vez,
nos despediríamos no saguão antes do voo partir.
Não durariam para sempre.
O tremor, os sonhos, nossos corpos, a escadaria, o fim ––
o abrigo daquele céu.