A malária é o corpo em
ebulição.
Fazíamos o impensável
com um décimo de consciência.
Quatro mamilos em
ponta.
Sexo empapuçado.
Torpor convulsão
êxtase.
Havia uma cidade antiga
encoberta pela areia,
uma fonte de água baça,
o aposento com dois
ambientes separados
por uma porta de
escrita cuneiforme
que produzia ecos ao
ser fechada.
Um paroxismo próximo,
dentro do parasita,
marcava os segundos.
O leito.
Não dava para saber se
era hotel,
nossa própria casa.
O som de motocicletas e
carroças dissipado,
o sol e a noite
miasmavam pelas frinchas das janelas.
Cuidávamos uma da outra
quando alguém
podia manter-se de pé
por alguns minutos.
Enxames de espera,
até completarem o ciclo
da esquizogonia.
Não a cura.
Recuo e recrudescimento.
As paredes verdes
interpretavam cenas bucólicas
com suas linhas de limo
e nuvens de mofo.
Nossas mãos coladas em
sonhos sucessivos, inacabados.
Os papéis todos
escritos.
Não havia mais onde
escrever e com o quê.
Domingo ou quarta.
Norte ou sul.
Lá fora, uma erosão no alto da rocha,
degraus encovados de
uma longa escadaria.
Subimos por ali.
Parece tanto tempo.
A febre afrouxando,
a consciência plena restituída,
não seríamos mais as
mesmas.
Desconhecidas outra
vez,
nos despediríamos no
saguão antes do voo partir.
Não durariam para
sempre.
O tremor, os sonhos,
nossos corpos, a escadaria, o fim ––
o abrigo daquele céu.