1.2.13

Verlaine & Rimbaud - roteiro de "Total Eclipse"



Verlaine: O que você acha de minha esposa? 

Rimbaud: Não sei. O que você acha dela? 

Verlaine: Ela ainda é muito criança. 

Rimbaud: Eu também. 

(pausa

Verlaine: (para o garçom) Dois absintos... 

Rimbaud: Esse seu último livro... 

Verlaine: Sim... 

Rimbaud: ...não é lá essas coisas. 

Verlaine: Não está falando sério. 

Rimbaud: Puro lixo pré-matrimonial. 

Verlaine: Não. São poemas de amor. Muita gente gostou. 

Rimbaud: Não passam de uma mentira. 

Verlaine: Não são uma mentira, eu amo minha mulher. 

Rimbaud: Amor... 

Verlaine: Sim. 

Rimbaud: Isso não existe. 

Verlaine: O que quer dizer? 

Rimbaud: O que une as famílias e os casais, isto não é amor. É burrice, egoísmo, ou medo. 
O amor não existe. 

Verlaine: Você está enganado. 

Rimbaud: O interesse próprio existe, a união para proveitos pessoais existe, a complacência existe. 
Não o amor. O amor tem de ser reinventado. 

Verlaine: Eu amo o corpo dela. 

Rimbaud: Há outros corpos. 

Verlaine: Não. Eu amo o corpo de Matilde. 

Rimbaud: E a alma não? 

Verlaine: Acho mais importante amar o corpo do que a alma, afinal a alma pode ser imortal. 
Terei muito tempo para a alma, enquanto a carne... 

Rimbaud: (bufando

Verlaine: O que foi? É o meu amor pela carne que me mantém fiel. 

Rimbaud: Fiel. O que quer dizer com isso? 

Verlaine: Sou fiel a todos a quem amei. Se amei um dia, amarei para sempre...
e quando estou sozinho à noite ou pela manhã, posso fechar meus olhos e celebrar a todos. 

Rimbaud: Isto não é fidelidade. É nostalgia. Não espere fidelidade de mim. 

Verlaine: Aaah... por que está tão azedo comigo? 

Rimbaud: Porque você precisa disso. 

Verlaine: Já não basta saber que amo você mais do que ninguém? E que sempre amarei? 

Rimbaud: Ah, cale essa boca, seu bêbado choramingas. 

Verlaine: Diga que me ama. 

Rimbaud: Ah, pelo amor de Deus. 

Verlaine: Por favor, é importante para mim, diga... 

Rimbaud: Você sabe que gosto de você. 

Verlaine: Fiz umas compras hoje de manhã. Comprei um revólver. 

Rimbaud: E pra quê? 

Verlaine: Para você, para mim, para todos. 

Rimbaud: Espero que tenha comprado munição suficiente pra todo mundo. 



(Tradução Maira Parula)