13.2.13
Miramar
Talvez assim, cara a cara,
eu não tenha hoje mais nada para lhe dizer.
Você espera repercussão.
Que uma palavra minha se aloje no seu peito como uma bala.
Que eu cace um vocabulário que caiba no seu sentimento,
como quem monta uma metralhadora peça por peça na mesa de um bar e ensine a usá-la.
Mas o tempo dos oradores já passou e a camarada Mauser enferrujou.
Nunca fui tudo isso que você pensa.
No dia da assembleia, eu cheirava num banheiro na Cinelândia.
A polícia bateu na porta e ela me puxou com um beijo na boca.
Não abrimos e lá se foi a guerrilha pela privada com o resto do pó.
Roubar um banco é bem mais fácil que o meu coração.
Ela caiu na Belém-Brasília e o Miramar logo depois.
Subindo na marquise do cinema, eu trocava as letras por um filme com o seu nome.
Sentada na escadinha que dá na areia, hoje talvez assim, cara a cara,
o pôr do sol não tenha mais nada para me dizer.