7.11.14

Encontro às cegas





Você se chama Moema Paranhos de Oliveira?
Como vai?
Meu nome é Luísa Guedes Monteiro.
Moro em Passo Largadinho, sul do estado.
Ninguém conhece.
Você quer ser minha namorada?
Vamos nos conhecer?
Você tem nome de quem vive da beira do mar.
Mo-e-ma.
Não sei por que acho isso. Vai ver é cisma.
Eu nunca vi o mar.
Vamos à praia de Copacabana?
Comer pizza numa cantina italiana.
Eu fico nervosa em primeiros encontros.
Fico tremendo. Não sei o que falar.
Dar três passos já é uma longa viagem.
Três sílabas, uma noética.
Isso acontece com você?
Essa urtiga no estômago.
Não sou bonita, mas li muito Machado de Assis.
Muita mucelagem poética.
Também não sou feia, sou abstrata.
Adoro noz-moscada, Charlie Parker, sirene de bombeiro,
e acho que nuança deve se escrever nuance,
como no francês.
Sou simpática. Numismática.
Você deve saber que tudo tem dois lados.
Mas fale-me de você.
Você que gosta de chamar os namorados de Mozi
e nem desconfia que Mozi era um rival de Confúcio.
Você que está longe de ser feia e quer ser atriz principal
num monólogo nô de Plínio Marcos.
Você também treme num primeiro encontro
mas fala pelos cotovelos para esconder
o que sente o que não sente.
Você não quer muito ir à praia de Copacabana
mas por um amor efêmero é capaz de ir até o Novo México.
Afinal, para onde escoa aquela areia toda?
Você que adora luminárias, neurolépticos e narcisos,
prefere sempre mungunzá a pizza.
Você que nunca namorou uma mulher teme -- ou espera
que Luísa seja a mãe fundadora do lesbianismo estatal.
Com políticas púbicas que não lhe deem muito trabalho.
Que arranque sua calcinha no banheiro do Mamma Rosa
e tire da cartola um orgasmo lento, progressivo e histórico.
Você, Moema Paranhos de Oliveira, mal contém
suas carnes, medula e ossos girando em fogo persa.
Vai se encontrar sim, queira ou não, não vê a hora,
com Luísa Guedes Monteiro em Copacabana,
Mucuripe ou no diabo que nos carregue.