13.1.15

Em que lugar da casa você daria um tiro na cabeça





Em que lugar da casa você daria um tiro na cabeça
em que ponto turístico da casa
em que rua da cidade
de pé
em ruínas
sentado em que móvel
ou automóvel
deitado em que tecido
de que cor
a cor que faz lembrar de alguma coisa antiga
de um projeto futuro
futuro promissor
o tecido macio
você desliza a mão
não é a pele que está ali
é a pele da casa
você está cercado pela pele da casa
que o envolve feito carapaça
a pele áspera da cozinha com tanto café
xícaras que conversaram
em que lugar da mesa você se senta
você tem lugar marcado
na cama tem lugar marcado
o seu travesseiro preferido
o braço dolorido onde apoia o peso do corpo
o ouvido que não encosta no travesseiro
porque não quer ouvir o pulso do coração
você vai poupar o coração
a cabeça foi declarada culpada
com dados viciados
não cabe recurso
em que lugar da cabeça
você é canhoto
não falo dos motivos
falo da mecânica
em que posição da cabeça
tombada
queixo erguido
ou vai mergulhar de cabeça 
do alto de uma cachoeira
mergulhar em areia movediça
você turvará a mente dentro da cabeça
com alguma droga artificial
ou a bílis será a sua bebida
escreverá um bilhete de cara limpa
não há mais papel em sua casa eletrônica
de pele áspera
vai escrever no papel do cigarro
você não fuma
na bula do remédio
sim, na bula
você não quer deixar bilhete algum
tem uma ponte a quarenta quilômetros daqui
com que tipo de arma de fogo
reluzente
escura
vai mirar o ouvido
a têmpora
a cara a boca a nuca
tem um banco no jardim
a casa está em silêncio
os passarinhos comem na sua mão
o pensamento são fardos de algodão
o sol já vai se pôr
então não existe disco voador
você é o holandês do navio-fantasma
aquela prece não sai da sua cabeça
o banheiro está limpo
você borrifa um perfume cítrico atrás da orelha
penteia o cabelo
a lua cheia
maré alta
que coisa barroca dar um tiro na cabeça
descasco uma banana
ponho canela e acendo o forno