Mesmo muito tempo após a minha morte
Muito tempo após a tua morte
Quero te torturar.
Como uma serpente de fogo,
quero que o meu pensamento
enrole-se no teu corpo sem queimar.
Quero te ver perdido,
asfixiado, perambulando
pela névoa sombria dos meus desejos.
Para ti, desejo longas noites insones,
repletas do tamborilar estridente de tempestades
distantes, invisíveis, desconhecidas.
E no fim, quero que te paralise
toda a nostalgia da minha presença.
Maria Martins, escultora brasileira e amante de Duchamp,
fez este poema por volta de 1945. Trad. Maira Parula, 2015.