20.1.15

Poema de Maria Martins a Marcel Duchamp




Mesmo muito tempo após a minha morte

Muito tempo após a tua morte

Quero te torturar.

Como uma serpente de fogo,

quero que o meu pensamento

enrole-se no teu corpo sem queimar.

Quero te ver perdido,

asfixiado, perambulando

pela névoa sombria dos meus desejos.

Para ti, desejo longas noites insones,

repletas do tamborilar estridente de tempestades

distantes, invisíveis, desconhecidas.

E no fim, quero que te paralise

toda a nostalgia da minha presença.

-------------------------------------------



(Maria Martins, escultora brasileira e amante de Duchamp, 
fez este poema por volta de 1945. Trad. Maira Parula, 2015.)