Estou aqui esperando que ela escreva por mim.
Eu mesma não faço nada.
Abro o saco de ração e distribuo.
Tomo café. Tarde.
A chuva de ontem.
Passo pela chuva de ontem.
Espero.
A espera são movimentos peristálticos
de crianças já mortas brincando
no pátio do colégio até o sinal tocar.
A última água escorre pelas calhas.
Esta casa em meio às folhas.
As mesmas vozes do dia em que nasci.
Tomo-as em minhas mãos.
Penso em não esperar mais.
Vou ao quarto dela e possuo seu Diário Completo.
Um frio nas costas entra pela porta aberta.
Um mapa inteiro.
A espuma escorre pelos cantos da boca.
Deixo o livro estendido sobre a cama e me afasto.
Hoje é o meu dia de preparar o almoço.