16.9.12

Para aliviar a carga do cavalo





Um bebê chorando. 
Sempre ouve um bebê que chora 
quando o pequeno vazio entra no 
quarto e a carne dele, ainda mole, 
ainda débil, 
sente o seu gosto por dentro das grades 
sem distinguir bem as partes. 
A piedade se aprende na porta de casa. 
Não se importa se há alguma verdade nisso. 
Toma-a pela mão. 
Ela entra nele e o sol nasce logo adiante no papel. 
Há uma certa distância entre ele e o modelo idealizado: 
a lua em um espelho vindo de ônibus do colégio. 
Mas ali estava um garoto enojado, 
de natureza intraduzível, 
deitando com as futuras filhas. 
E elas obedecem, sabendo calcular. 
No vazio que abriram, a semente 
de uma nova raça se vestirá como os outros 
e ela estará ali para recebê-los 
pelo preço de uma nova criança que nasce. 
Para aliviar a carga do cavalo. 
Para recolher o fruto maduro. 
Por isso era a mais amada de seus irmãos e irmãs. 
O garoto se lava e vai colorir 
cabeças no caderno de desenho, 
depois desenha uma praça, 
uma rua, 
um beco, 
um quarto estreito, 
o café da manhã, 
tocando as figuras 
para transformá-las 
umas nas outras. 
Ela não se sente enciumada, 
os meninos precisam de todo 
o seu tempo em gotas de cera desiguais. 
Haverá de ser um grande homem.