Era um corredor em forma de I.
O vizinho da direita diria é um corredor qualquer,
como todos os outros nove.
Apenas um caminho para entrar e sair dali.
O da esquerda, por que pensar no corredor?
Atravessa e chega no mundo,
um elevador de espelhos
sem janelas
sem janelas
com portas de engate mecânico
para o poço.
para o poço.
Para I não era um corredor qualquer.
Conhecia os outros nove.
Os quatro em cima dele e
os cinco para chegar até ele.
O primeiro, escuro, um peso,
de porta ou outra entreaberta,
a falsa pretensão de ser quase rua.
O segundo, comidas
sendo fritas em alma até o quinto.
I queria ser o quinto.
Pelo sétimo a luz começava a entrar
e o cheiro de lixo não era tão forte.
Tão barato.
O décimo era uma fotografia.
Um martíni de mármore.
Uma noite de sábado.
Uma coincidência.
Oito apartamentos por andar.
Oitenta números e telefones exaustos
tocando de frente e de fundos.
Maçanetas respirando
se tivessem tempo.
Mas I só ouvia as vozes dos seus oito.
Os passos pegajosos indo
e voltando do trabalho.
O fosso.
I ficava quieto, ouvindo.
Uma língua que teve de aprender.
Três lâmpadas acesas, cinco queimadas.
Ele não passava das portas.
Não conhecia o peitoril das janelas.
O que as pessoas viam por elas.
Ou se só viam pelos jornais
até conseguirem falar.
A vida seria mais simples fosse ele um L.
Mais divertida fosse um S.
O ar circulando livre.
Sem escadas.
Nada mal.
Talvez as portas lhe sorrissem.
Balançassem as chaves e ele veria
uma nesga de cortina lá dentro.
Um papel de bala.
Camas desfeitas.
Um globo terrestre.
Um par de luvas de camurça.
Um homem de paletó de costas para I.
A mulher caída no chão.
Uma garota que costumava cantar.
O homem desligando a vitrola e
apagando o cigarro no cinzeiro de latão.
Mas ninguém gosta de bisbilhoteiros
e o homem bateu a porta.
I ficou contando capachos.
Rachaduras no reboco.
O pó virando néon.
Areia molhada.
Um ligeiro tremor percorreu
suas paredes até a garagem.
Ninguém iria tão longe.