23.12.12

Algo contra mim




E se ela tivesse algo contra mim?
Não algo físico como o meu nariz.
Ou o quintal de alguma coisa.
Mas algo assim no meu jeito.
O segurar do copo sem beber.
Pegar a tesoura e não cortar.
O papel higiênico e não limpar.
O pinçar de um só medo
no meu núcleo de medos.
Um explicaria todos.
O tempo que fosse.
Eu poderia perguntar a ela.
Aqui mesmo.
Perguntar coisas que Inês nunca.
Mas ela se acomoda na poltrona
em frente. Nenhuma outra.
Como se fosse ouvir
o que não ia ouvir.
Troco meu refil de suicidas.
Espero. 
Pelo menos por um tempo.
Atrás dela, a ilusão ótica da lua
encobre a sua cabeça.
Puxo o lençol e fecho 
o livro com o lápis no meio.