Ela chegou bufando do Jockey Club e colocou as pernas pra cima
Havia despejado as economias no quinto páreo e perdeu tudo
Tirou as botas e as calças vermelhas
Disse que o vermelho lhe dava azar e me pediu mil paus com olhinhos rasos d'água
Ia recuperar tudo no pôquer aquela noite, eu ia ver
Tomou um banho, vestiu amarelo e ficou plantada na porta esperando
Dei-lhe 500
Era uma artista de talento
Aos 20 anos pintava para a revolução
Aos 30, para comprar pó
Aos 40 tenta o destino nos jogos de azar
Todos os anos vai a Las Vegas
Perde umas 4 telas nas roletas
Odeia caça-níqueis
Diz que Mônaco perdeu o glamour e trabalha com cartas marcadas
Ela divide o apartamento comigo enquanto traduzo poemas de Li Shangyin
Fã de Maiakovski e Rimbaud, desdenha poetas de gabinete
Mistura tintas de dia, embaralha cartas à noite
Antes de ela sair preparo um drinque pra nós e desejo boa sorte
Há dias longos e dias de haicai
Volto pro meu quarto e fecho a última estrofe.