27.5.19

Onde estivesse



Por algum motivo eu inchava.

Por algum motivo eu sabia que inchava o que estava inchando e não caberia mais ali dentro.

Serio cuspido ou asfixiado pela corda presa que minhas mãos moles mal alcançavam.

Eu crescia sem parar, não me reconhecia mais.

Eu sou isso. E o depois. É o que eu sou.

Era hediondo.

Tinha espasmos, abalos de fuga, girava, batia nas paredes para descolar-me.

O que fui não voltava a ser como antes.

Por algum motivo comecei a ouvir. Ruídos. Dentro de mim e lá de fora.

A perceber na escuridão sua claridade embaçada. Movediças.

Por algum motivo eu sabia que muito além eu saberia o que estava fazendo aquilo comigo.

E com isso senti circular-me por dentro um frio ruim que me obrigaria a defender-me 

quando eu parasse de crescer, e onde estivesse.

Onde estivesse.