17.1.13

A manhã seguirá para São Paulo



Subindo para o Vale, troco as marchas de ouvido. 
Vale das Videiras. 
Hoje não há mais videiras por lá. 
A neblina saindo de trás dos morros 
dissolve o para-brisa. 
Nunca houve. 
No quarto escuro respiro o vapor frio. 
A Igreja do Carmo. 
De fora para dentro. 
De dentro para fora 
talvez ficasse melhor. 
Não levo ninguém comigo. 
Só a duração da espera. 
Das minhas roupas que adoecem. 
Eu não me canso de olhar o carro subindo 
as curvas sinuosas do Vale onde não penso. 
As mãos suadas virando o volante 
num silêncio de lápis de cor. 
Ele não vai pedir anestesia, 
ainda que o coração publique se o fizesse bonito. 
Vai travar o ferrolho e esquecer da vida. 
Nem bem raiva, nem bem poesia. 
Antes eu não pedia, não há mais videiras por lá. 
Só nós dois na rede. Mas a morte também. 
Balançando nos fios soltos. 
Uma voz ao piano, feita para aquela emergência. 
O motor ronca entre árvores e morcegos. 
Os novilhos estão dormindo 
porque não escrevi uma linha. 
Ele deita sangue pela boca e pego mais um lenço limpo. 
Um clarão no retrovisor. 
Deito ao seu lado e acompanho sua respiração, 
trocando as marchas de ouvido.