7.1.13

Minhocas verdes do monte Pascoal


* Via infoarquivo Lock & Load: reuniões diárias laboratório. Detectado: Grupo subterrâneo denominado "Vassoura de Deus" articula ciberintervenção em massa -- Operação "Mens Agitat Molem". Meta: moralização-censura subliminar da rede e seus usuários. Meios: cybersquatting (search & destroy), hackerismo, criação de sites orientados e de biblevideos, disseminação ampla de contrainformações via redes sociais, mídias em geral, derrame de hiperdocumentos e links pró-neoevangelização, arregimentação global de voluntários anônimos para agitprop nômade: os "terroristas de Jesus", guerrilha virtual: franco-atiradores de spams/wide-range virus/junk mail/info-spy, gerar confusão / caos / onicrise de confiabilidade / desideologização / infiltração de fóruns e outros locais de encontros públicos online... 
decodificação em processo 


* livro é toda publicação com um mínimo de 49 páginas (UNESCO)

* poeta ter mais de 1 leitor já é um exagero (Lêdo Ivo)

* não me importo de A. ter um desejo obsessivo-compulsivo de beijar as maçanetas de minha casa. mas ela poderia pelo menos não usar batom?

* RELEMINSKI: Me enterrem com os leninistas/Na vala comum dos materialistas/ Onde jazem aqueles/ Que a utopia corrompeu

* vamos foder sim, Eulália, logo mais (Hilda Hilst)

* filhinha, por que a cadeira de balanço da mamãe não balança mais?

* minha CPU tem ruído de ovos fervendo na panela

* consolo: se até o roteiro de Rambo I levou 10 anos para ser escrito...

* de manhã, aquele sorriso maior que o Abaeté/ à noite, um grip demolidor/ meu coração sai pelas costas

* o que é mais antigo, o dia ou a noite?

* bifurca # unifurca

* tudo que se torna realidade não é mais amor (mandamento do amor cortês, séc. XII)

* ela sofria tão bem por amor... papai chamava isso de deborahkerrness

* Ownever (título)


* hei de fundar com a minha bananeira a sociedade dos amigos da cultura umbuzeira

* LIVRO NÃO SE EMPRESTA. A CASA É SUA. VENHA LER AQUI. (lembrete afixado numa estante da residência de Mário de Andrade)

* primeiro verso de um poema travado: "Ó Minhocas verdes do monte Pascoal..."

* geladeira cheia/libido vazia, libido abarrotada/geladeira vazia. C. tinha problemas para equilibrar a economia doméstica com a economia psíquica. eu engordava e emagrecia, emagrecia e engordava

* avinhe-se, abife-se e abafe-se (receita lusitana para resfriados)

* é pagando que se recebe

* só os sovinas condenam radicalmente o sexo por dinheiro

* fui até a esquina e não vi você lá, como disseste para eu fazer

* bem-aventurados os que têm sono, porque breve adormecerão

* barulho de coisas caindo dentro do sonho

* Coisas que aprendi com o cinema alemão: não rir das comédias, dormir nos de terror.


* o que sonha uma bola de tênis? / as minhas, que não vão para Wimbledon,/ nem se sujarão no saibro / ou serão descartadas após um game / ficarão comigo dentro da minha caixa de Ballantines / bêbadas e felizes


* Os dois entraram no meu carro. Aí está por que demorei. Ficaram calados. Outra palavra os faria brigar de novo. Nos primeiros minutos, eu não soube o que pensar. No dentista talvez. A alma carregada de embrulhos, reservei-me. A paisagem lá fora daria umas 11 linhas. Não mais.

* detesto caneta que não escreve deitada

* frase durante o sonho:  "eu não queria escrever hotel com agá"


* oficinas literárias servem para que os que escrevem mal aprendam mais depressa

* brincar de "forgotten women poets", como tia Beth Bishop ensinou

* vou fazer um poema-denúncia. não, só a denúncia. o poema fica pra depois

* Coisas que aprendi com o cinema de Ozu: que dá tempo de fazer um takoyaki entre uma cena e outra.


* método de trabalho: escreve e esquece


* A primeira vez que li Kerouac eu tinha 18 anos. A segunda vez, dez anos depois, eu continuava com 18 anos.


* -- Não gosto de blablablá.

  -- Blá?
  -- Eu disse que não gosto de blablablá.
  -- Ah, blá...
  -- Não entendeu?
  -- Blá!

* Pronomes pessoais do caso reto, uso contemporâneo:  Eu, tu, ele(a), a gente, eles(as).


* Os rouxinóis emudecem, quando os jumentos ornejam. (Marquês de Maricá)

* Coisas que aprendi com o cinema: no meio do caminho tem um monolito, mas você só ouvirá valsas que lhe farão leitura labial na gravidade zero

* Bogarting the joint

* zapeando ansiolíticos

* o que há antes do rosto? / que já não se sentia desde o início

* basta-me estares aí, fazendo de conta que estou aí


* título: Não precisamos de você. Temos Vanya.

* eu fumo/ tu não fumas/ ele diz que não fuma/ nós fumamos escondido/ vós ninguém sabe conjugar/ eles enchem o saco

* tenho tentado viver numa torre de marfim, mas sempre uma maré de merda lhe bate nas paredes para fazê-la desabar (Flaubert)

* eu só não escovo os dentes andando porque babo

* quanto de mole forma o duro?

* mortos os mortos pareciam,/ e os livros, livros; /melhor não viu quem/ verdadeiros os viu, que eu que/ só os vi figurativos

* o poeta novo chama de não-coisa o que o poeta velho chama de intangível

* "claustro expressivo", gosto desta expressão. pode-se aplicar a tudo.


* Coisas que aprendi com o cinema: Objetivo, Durma!


* A primeira vez que li Virginia Woolf foi com as palavras de Cecília Meireles, Orlando. Qual das duas eu li?

* não me convidem mais para tertúlias. não passam de choldras. nem os alcoóis compensam

* últimas palavras de lady Mary Wortley Montagu em vida: "Well, it's all been quite amusing."

* olhando a poeira assentar/ à disposição do vazio

* Digamos que um cometa gigantesco rasgue o céu e se choque com a terra, reduzindo o planeta a uma nuvem de pó. Digamos que toda a água do mundo evapore e que a lua não saia nunca mais do eclipse. Digamos que eu te convide para almoçar. Digamos.

Vén y sabrás al grande fin que aspiro/antes que el tiempo muera em nuestros brazos (González Lanuza)

* Coisas que aprendi com o cinema: Orson Welles nunca que ia caber num Rosebud


* A primeira vez que li Anne Rice eu já tinha sido totalmente dessangrada por Drácula, não sobrou uma gotinha pro Lestat. 

* No mundo científico, basta você emprestar um liofilizador, uma pipeta que seja, e seu nome aparecerá nos créditos de autoria do artigo. Imagino isso no mundo de romancistas e poetas...


* Coisas que aprendi com o cinema: morar no mato sempre tem um sujeito descendo o machado na lenha em cima do toco.


* "sessenta samurais roubados" em vez de "celulares", "rezas suecas" em vez de "raízes secas", "relinchando no sofá" em vez de "reclinando". preciso ler as coisas com mais atenção


* as montanhas e as árvores não se mexem. por que eu teria? (ditado indígena)


* Nós sempre dizemos a verdade. Nossas versões é que são incompatíveis. (Julian Barnes)


* Você não tem outra víscera para cantar? Só sobre amor? (João Cabral a Vinicius)


* o retrovisionário (título)


* Perhapsburgo (cidade)


* olhando a rua de viver à parte / sombra inacabada


* Coisas que aprendi com o cinema de Hitchcock: quem sofre de Psicose tem um ralo enorme.


* Deus virou-se para o mar e me disse assim: Deves saber que o mar é algo que combinamos além da minha imagem de frente para o mar.


* Sempre ouvi dizer que certas coisas não se deve falar. Outras não se deve escrever. Mas hoje molhei a pena no tinteiro e escrevi tudo que me vinha à cabeça. Eu precisava dizer que ele passa as tardes arrotando xinxim de galinha e coçando o saco enquanto sou a escrava. Precisava dizer que o amor não é bem isso que imagino. Que quando imagino digo as muitas coisas que se deve escrever. E as tantas outras que se deve falar. E ele. Ele fica aqui olhando pra mim da legenda que rabisquei sob sua imagem.


* A arte é a magia que liberta a menina de ser verdadeira.