26.9.12

3 poemas de Josefina Plá




Livre

Livre para nascer sem escolher o dia
livre para beijar sem saber por que esta boca e não outra
livre para engendrar e conceber o que há de te trair
livre para pedir o que depois será inútil
livre para buscar o que amanhã já não terá significado
livre para morrer sem escolher o dia
livre para apodrecer sem escolher o lugar
livre para voltar ao pó sem memória
livre para seguir o rumo das raízes pequenas
livre para olhar o sol que não te olha
Livre para nascer sem escolher o dia




As portas


...Um fechar de portas,
à direita e esquerda;
um fechar de portas silenciosas,
sempre a destempo,
sempre um pouco antes
ou um momento demasiado tarde;
até restar só uma aberta,
a única pontual,
a única obscura,
a única sem paisagem e sem olhar





A viagem


Não sei onde tomei este trem
O vagão está fechado
e a única paisagem
é a sombra que corre com o trem
Me acompanham um velho que já se esqueceu de tudo
e um menino que não sabe aonde vai nem com quem
Sei apenas que este trem tem
uma só estação uma só plataforma
e que quando chegar seja onde for
não sei onde estarei




(Trad. Maira Parula)