26.9.12

5 poemas do costa-riquenho Luis Chaves





Postal

No mar à tarde,
calmo e sem ondas,
uma banhista solitária
entra até a cintura.

A metade de cima
observa algo que não vemos.
A metade de baixo
não existe.



A baixinha do canto escuro

Mamãe queria que eu fosse mulher
e que não chovesse nove meses do ano
e que papai a tirasse para dançar de vez em quando.
Mas era mais fácil amanhecer um dia com tetas
do que don Luis convidá-la para um bolero.

Há muitos anos minha mãe deixou de sonhar,
hoje aguarda a velhice como um último trâmite.
Essa mulher que em muitas manhãs
lavou e secou os pés que mais tarde
uma só vez dançaram com ela,
senta todos os dias nos degraus de sua casa
para olhar a dança vitoriosa da chuva
e para atender meus telefonemas,
cada vez menos frequentes,
já nem sequer pode levantar-se
com o peso de tanta música morta nas pernas.



Plano B

Todas as decisões erradas de tua vida
fizeram com que chegasses até aqui.

Basta uma correta para afastar-te.



O objeto do desejo

Debaixo dessa pintinha tão sexy
cresce em silêncio
um tumor maligno.



Quanto dura a felicidade

O avô de mamãe,
totalmente senil,
dentadura de porcelana e fraldas,
sentado no meio de sua prole
que já não reconhece.
Depois de contar até três todos dizem giz.

Seu sorriso tem a mesma duração
que o instante mínimo
entre o flash e o obturador.



(Tradução Maira Parula.)